O retorno e a digestão
Ok gente, eu sei que super sumi. Eu sei. Meu blog estava todo bonito, sendo atualizado toda semana, e de repente eu saí de férias, e elas se tornaram férias de gente rica, sem data pra terminar. Na real, eu já tinha voltado à ativa faz tempo, só não estava conseguindo me concentrar (se é que me entendem) pra escrever alguma coisa aqui. Devo ter pelo menos uns cinco rascunhos de possíveis textos pra publicar, e não consegui terminar nenhum.
O ano letivo começou, e por incrível que pareça não estou (ainda) tão apavorado. Estou mais atrasado do que nunca, chegando quinze ou vinte minutos depois que aula começa, porque sempre na hora de sair pra aula aparece algum sintoma do TOC, e aí eu tenho que analisar a casa inteira, pensar no fogão, na geladeira, subir e descer duas vezes no elevador, verificar atentamente se não há um corpo amarrado no meu carro… Essas coisinhas normais.
Mas o que eu tenho notado agora é algo mais bizarro. As pessoas vão achar que estou ficando surdo, porque quando falam comigo, eu presto o máximo de atenção possível (ok, isso não é muito), e mesmo assim eu pergunto o que estavam falando. Peço pra repetir três ou quatro vezes a mesma coisa, bem devagar, e ainda assim não consigo digerir a informação. Aí, tendo em vista a enorme quantidade de e.mails que recebi durante estes dois meses sem aparecer aqui no blog, resolvi compartilhar algumas informações que busquei pra entender esta minha quase-surdez.
Embora a presidente de uma associação respeitada nacionalmente para disléxicos me escreveu que “A dislexia é uma dificuldade de APRENDIZADO nas áreas da leitura, escrita e soletração”. Só que não. Me perdoe tal associação, mas não. Não se resume em uma frase o que tantas outras associações mundiais vêm estudando, e o que apenas milhares de disléxicos entendem. A dislexia, segundo a ciência está relacionada com palavras, letras, números, símbolos e signos, que entre determinada citação, se confundem em um ou mais de três níveis. Puta merda, como eu escrevi bonito!
E que diabos são estes níveis? Tá, pra tentar simplificar um pouco, vamos fazer um desenho:
Neste primeiro caso, o Beto, que é a pessoa quadrada da direita, está conversando com sua amiga Tchucknorrys (a amiga é minha, e eu chamo ela como eu quero). Ela está contando que tem uma estrela roxa de seis pontas. O Beto ouve atentamente a informação, mas ao “armazenar” a informação no cérebro, ele gravou que a estrela é verde de cinco pontas. Este é o tipo de sintoma que eu sofro na dislexia: ouvi direito, mas a informação ficou bagunçada lá dentro.
Este outro tipo de nível disléxico acontece da seguinte forma: o Beto sabe que só existem estrelas roxas de seis pontas, mas na hora de descrevê-la, ele se confunde e fala que as únicas estrelas que existem são verdes, de três pontas. COMOLIDAR?!
Já nesta situação, que é uma das mais comuns, o Beto vê num caderno (desenhinho mal feito pra caramba) uma estrela VERDE DE CINCO PONTAS. Mas ele consegue ler que ela é uma estrela roxa de seis pontas. Ou vice e versa.
Logo, a dislexia possui diversas formas diferentes (e eu adoraria que algum disléxico discordasse de mim, mas tenho certeza que todos concordam). A compreensão é sempre a mesma, o problema maior acontece na hora de transferir esta informação para algum lugar, seja numa conversa, na leitura, ou na escrita. Já estão mudando certas concepções sobre o “pacote grátis” que acompanha a Dislexia. Hoje já se comenta muito sobre Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade serem complementos quase obrigatórios de quem tem dislexia, mas entenda que não é mole você salvar alguma coisa muito importante no seu computador mental e quando precisar encontrá-lo ter que abrir todos os arquivos que tem aí com o mesmo nome e achar algo diferente.
No próximo post comentarei os e.mails e mensagens que recebi. Boa sorte pra nós, estudantes disléxicos deste mundão. O ano está só começando, e em caso de indigestão (como eu tenho sofrido), tomem um Engov e bola pra frente.