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Já disse BUARQUE, Chico: Roda mundo, roda gigante, roda moinho; Roda pião. O tempo rodou num instante, nas voltas do meu coração. Ou então, como diria VENTURINI, Flávio: (…) e lá se vai mais um dia.
A gente tem que tomar muito cuidado com as coisas que pede ao universo, porque ele atende da forma como bem entende. Aliás, o tal universo deve ser disléxico. Eu só queria uma vida diferente da que estava levando. Queria ser útil, ter alguma função importante no mundo. E lá se vai meio ano, ou mais, ou talvez já dois terços dele. A matemática continua um fracasso. Por outro lado, todo o resto que até ontem me angustiava muito, como a montoeira de sintomas de um TOC nunca resolvido, parecem estar abafados pela falta de tempo.
Hoje o Beto está no último semestre da faculdade. E MUITO obrigado a todos que aqui leram meus desabafos e compartilharam da minha preocupação dramática sem limites. O Beto montou uma ONG que vai de vento em popa. O buffet que estava quase morrendo no mar está funcionando bem, e a empresa atendeu nos últimos meses só clientes, que após suas festas, estavam muito satisfeitos. O Beto agora é professor. Por um monte de razões, aquele lance de educação especial não lhe fez bem, e por incrível que pareça desta vez o Beto não deu tanto murro em ponta de faca: tem coisas que não servem pra qualquer pessoa. Mas ele agora dá aula de arte, de sociologia, de filosofia, de história, de geografia (esta última nem pergunte como).
Assumi um monte de aulas. Comecei a perceber que meus alunos me adoram, e vamos deixar de lado uma vez na vida a tal modéstia e a baixa autoestima que sempre me moveram: eu sou um bom professor. Entre acreditar que não tenho capacidade em lecionar outras matérias e deixar que mais um professor acomodado a trinta anos na carreira assuma-as e faça mais um bando de alunos descrentes da educação, aceitei tantas disciplinas. (Ainda) sou idealista, e acredito em um novo mundo feito por alunos, que antes de saberem a ordem das revoltas dos Guararapes e dos Emboabas, saibam pensar. A sensibilidade é um instrumento fundamental na sociedade moderna que a gente tem vivido. Bem mais útil que conhecer Deleuze e suas paranóias, é compreender que todo mundo exerce alguma influência, e que o meio é feito por todos nós.
O que eu mais precisava neste momento da minha vida era saber que alguém precisa de mim. Ontem, caminhando pelo colégio, vi uma fila na porta da sala da diretora, e um alvoroço sem tamanho típico de alunos de ensino médio. Passei rápido porque estava atrasado, e entrei na minha próxima aula. O tempo anda muito curto, e naqueles cinco minutos que até um ano atrás eu desligava do mundo, agora abro o computador e mexo na minha monografia. Quando o sinal tocou pra ir embora (ou melhor, ir pra faculdade), a diretora veio até mim e disse “Beto, não sei o que fazer, os alunos estão pedindo pra você assumir mais aulas a todo custo.”
Aí, como bom professor em começo de carreira, tenho lido e estudado muito. Uma frase do Einstein me fez rever minha forma de avaliação, e de me autoavaliar. Todo mundo é um gênio. Mas se você julgar um peixe pela sua habilidade de subir em árvores, ele viverá o resto de sua vida acreditando que é um idiota. Tenho agora, e com alegria que comento, a minha primeira aluna disléxica. E vou lutar com unhas e dentes pra que ela não seja mais um peixe que só passará de ano subindo em uma árvore.
Obviamente nada na vida é de graça. Tenho dormido pouco, estou no quarto resfriado desde janeiro, com úlceras, e dirigindo uns setenta quilômetros por dia. Mas hoje escrevi um textinho água com açúcar, vou tomar banho, e dormir muito feliz. Ou como diria MELLO, Luciana: Pra viver e pra ver não é preciso muito, atenção, a lição está em cada gesto!
Tá no mar, tá no ar no brilho dos seus olhos. Eu não quero tudo de uma vez, eu só tenho um simples desejo… Hoje eu só quero que o dia termine bem.
Gente, postei um texto dizendo que o blog tinha voltado a ser atualizado, e sumi novamente. Ok, ok, ok… Mas dessa vez tenho um motivo muito grande pra justificar minha ausência. Cara, to putamente feliz em dividir aqui um sonho que estou realizando.
No fim do ano passado eu me inscrevi num processo seletivo que acontece na Secretaria de Educação pra professores. Fiz inscrição regular, juntei toda documentação e desencanei completamente de ser chamado pra dar aula. Claro, sempre com esperança, porque quem me conhece de perto sabe que eu sempre sonhei com isso.
Enfim, nesta semana saiu em edital a chamada, eu estava dentro da classificação selecionada, e me apresentei. Embora meu contrato tenha duração de apenas dois anos, a sensação de poder ver o mundo do ensino de outro ângulo me faz acreditar que estou no caminho certo. Deixei de ser um aluno que sempre reclama de tudo pra ser o professor de quem reclamam! (Tomara Deus que eu não pague por isso, né?).
Brincadeiras à parte, durante as minhas graduações, enquanto um professor ensinava algo eu sempre imaginava como ensinaria aquilo a alguém. Transformava as explicações que achava confusas, chatas e de má vontade em uma possibilidade de prender a minha própria atenção como aluno. Exemplos bons eu sempre anotava: o professor ensinou isso com tal exemplo. E eu desconfiava que ensinando alguém acabaria aprendendo mais sobre o conteúdo.
Dito e feito. No mesmo dia em que assinei o contrato, e fui aos quatro colégios entregar o que chamam de memorando, sem ter ideia de quando começaria a lecionar, fui empurrado pra dentro de salas de aulas cheias de alunos esperando um “novo professor”.
É assustador. Mas não senti medo. E pasmem: eu não troquei palavras, nem letras, e nunca estive tão seguro do que estava dizendo. Falei de arte (que até agora não tinha mencionado, mas é a disciplina que estou lecionando) com uma propriedade que nem na minha banca de conclusão de curso eu tive.
Mas aí entra uma questão complicada: da noite pro dia me tornei o Capitão Alberto Nascimento, sabem quem é? O personagem de Wagner Moura em Tropa de Elite. Pra quem nunca viu o filme, Nascimento é um capitão do BOPE no Rio de Janeiro que faz das tripas coração para ir contra os erros do que ele chama de “Sistema”. E se depara com um monte de barreiras que o impedem de fazer o que julga correto, porque o sistema é corrupto e corruptível.
Eu não quero ser mais um professor acomodado em um cargo público, que é fixado em um plano de aula estabelecido por quem mal entende do assunto. Não quer usar jaleco, nem falar no mesmo volume a aula toda, nem perceber que meus alunos preferem assistir o padre Marcelo Rossi rezando o terço bizantino do que a mim. Eu quero fazer parte da pequena parcela dos professores que são amigos de seus alunos, e não o maior pesadelo da vida deles. Eu quero que meus alunos lembrem do que eu disse, e não do que eu gritei. Quero que eles me questionem, que digam que eu estou errado, que mostrem seus argumentos (pode ser que eu esteja mesmo). Quero que eles desabafem comigo, como eu fiz tantas vezes com meus professores. E como são todos jovens, entre dezesseis e vinte anos, quero dividir com eles esta juventude, e as incertezas que eles acham que existem só na adolescência, mas nos acompanham por toda vida.
Quando fui visitar a última escola, tive uma baita surpresa. Fui encaminhado a um colégio de ensino especial, e por ironia do destino, eu, que até ontem era o incapaz da turma, passei a ser aquele que vai fazer os alunos perceberem o quanto são capazes.
Por fim, minha gente, eu só quero ser um bom professor, só quero cumprir minha função com todo carinho e dedicação, mesmo que meu salário seja uma vergonha nacional, que as escolas tenham estruturas decadentes, que os outros professores e diretores me olhem como um alienígena…
- Pede pra sair, pede pra sair Capitão Alberto Nascimento!
- Não peço, não peço, não peço!
Ok gente, eu sei que super sumi. Eu sei. Meu blog estava todo bonito, sendo atualizado toda semana, e de repente eu saí de férias, e elas se tornaram férias de gente rica, sem data pra terminar. Na real, eu já tinha voltado à ativa faz tempo, só não estava conseguindo me concentrar (se é que me entendem) pra escrever alguma coisa aqui. Devo ter pelo menos uns cinco rascunhos de possíveis textos pra publicar, e não consegui terminar nenhum.
O ano letivo começou, e por incrível que pareça não estou (ainda) tão apavorado. Estou mais atrasado do que nunca, chegando quinze ou vinte minutos depois que aula começa, porque sempre na hora de sair pra aula aparece algum sintoma do TOC, e aí eu tenho que analisar a casa inteira, pensar no fogão, na geladeira, subir e descer duas vezes no elevador, verificar atentamente se não há um corpo amarrado no meu carro… Essas coisinhas normais.
Mas o que eu tenho notado agora é algo mais bizarro. As pessoas vão achar que estou ficando surdo, porque quando falam comigo, eu presto o máximo de atenção possível (ok, isso não é muito), e mesmo assim eu pergunto o que estavam falando. Peço pra repetir três ou quatro vezes a mesma coisa, bem devagar, e ainda assim não consigo digerir a informação. Aí, tendo em vista a enorme quantidade de e.mails que recebi durante estes dois meses sem aparecer aqui no blog, resolvi compartilhar algumas informações que busquei pra entender esta minha quase-surdez.
Embora a presidente de uma associação respeitada nacionalmente para disléxicos me escreveu que “A dislexia é uma dificuldade de APRENDIZADO nas áreas da leitura, escrita e soletração”. Só que não. Me perdoe tal associação, mas não. Não se resume em uma frase o que tantas outras associações mundiais vêm estudando, e o que apenas milhares de disléxicos entendem. A dislexia, segundo a ciência está relacionada com palavras, letras, números, símbolos e signos, que entre determinada citação, se confundem em um ou mais de três níveis. Puta merda, como eu escrevi bonito!
E que diabos são estes níveis? Tá, pra tentar simplificar um pouco, vamos fazer um desenho:
Neste primeiro caso, o Beto, que é a pessoa quadrada da direita, está conversando com sua amiga Tchucknorrys (a amiga é minha, e eu chamo ela como eu quero). Ela está contando que tem uma estrela roxa de seis pontas. O Beto ouve atentamente a informação, mas ao “armazenar” a informação no cérebro, ele gravou que a estrela é verde de cinco pontas. Este é o tipo de sintoma que eu sofro na dislexia: ouvi direito, mas a informação ficou bagunçada lá dentro.
Este outro tipo de nível disléxico acontece da seguinte forma: o Beto sabe que só existem estrelas roxas de seis pontas, mas na hora de descrevê-la, ele se confunde e fala que as únicas estrelas que existem são verdes, de três pontas. COMOLIDAR?!
Já nesta situação, que é uma das mais comuns, o Beto vê num caderno (desenhinho mal feito pra caramba) uma estrela VERDE DE CINCO PONTAS. Mas ele consegue ler que ela é uma estrela roxa de seis pontas. Ou vice e versa.
Logo, a dislexia possui diversas formas diferentes (e eu adoraria que algum disléxico discordasse de mim, mas tenho certeza que todos concordam). A compreensão é sempre a mesma, o problema maior acontece na hora de transferir esta informação para algum lugar, seja numa conversa, na leitura, ou na escrita. Já estão mudando certas concepções sobre o “pacote grátis” que acompanha a Dislexia. Hoje já se comenta muito sobre Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade serem complementos quase obrigatórios de quem tem dislexia, mas entenda que não é mole você salvar alguma coisa muito importante no seu computador mental e quando precisar encontrá-lo ter que abrir todos os arquivos que tem aí com o mesmo nome e achar algo diferente.
No próximo post comentarei os e.mails e mensagens que recebi. Boa sorte pra nós, estudantes disléxicos deste mundão. O ano está só começando, e em caso de indigestão (como eu tenho sofrido), tomem um Engov e bola pra frente.
Eu tirei férias. Do mundo. De modo geral. Desde o dia três de janeiro de dois mil e treze fiquei na praia, rompendo qualquer compromisso com o mundo, evitando ficar preso nas sinas que meu cérebro está acostumado.
Mas como ficar indiferente diante de uma coisa tão chocante quanto o que aconteceu no último domingo na boate Kiss em Santa Maria, no Rio Grande do Sul? Ok, eu sei que meu blog não foi montado pra falar de assuntos assim, mas forçado por mim mesmo, me sinto obrigado a usar este espaço que tomou uma proporção de público imensa como nunca pensei pra discutir sobre este delicado assunto. Por isso, o primeiro post deste ano está diferente, e vai começar agora:
Antes de qualquer coisa, por favor parem de ficar postando fotos de gente morta num incêndio no Haiti dez anos atrás, como se fosse algo atual e nacional. Em segundo lugar, parem de falar sobre isso. Não se trata de eu ser insensível, ou de querer fugir de uma realidade terrível. É que ninguém suporta mais conviver com este fato estúpido que a rede Globo transmite de cinco em cinco minutos. E se alguém ainda suporta, que pense ao menos nestas famílias que estão sendo estampadas em reportagens de todo o mundo sem consentirem o uso de suas imagens. Pelo amor de Deus parem de compartilhar fotos de mães sobre caixões de seus filhos, e prints screens de últimas atualizações de status das vítimas.
Parem de culpar, de julgar, de criticar. As fatalidades existem, e embora não nos conformemos (eu mesmo não me conformo), existe uma coisa indiscutível em qualquer religião chamada “destino”. Lamento, mas mesmo que tudo estivesse em perfeitas condições, e não houvesse fogos de artifício, ou se houvessem portas e mais portas de incêndio, a fatalidade ali estaria, e ninguém seria salvo. O sofrimento de quem vive em Santa Maria é transmitido para o resto do país, que sofre, e é impossível ficar indiferente. Nós vamos sim, sofrer junto deles, por meses, anos, ou quem sabe a vida toda. Mas não, senhores, não temos o direito de aumentar ou alimentar este sofrimento através de uma rede social. Não não somos ninguém pra condenar donos de boates, bombeiros, músicos ou seja quem for, porque a sensação de culpa que carregarão para sempre será a maior pena. Eu sinto pena deles, da mesma forma que sinto de quem perdeu um filho, porque acredito que nunca houve a intenção de matar alguém. E não me admiraria se algum leitor deste blog dissesse que não tem pena nenhuma.
Visto em mim um monte de dores e de angústias. Sou jovem, que frequenta uma balada vez ou outra. Sou produtor de eventos, que tem sobre si a responsabilidade de “devolver” centenas de pessoas às suas casas ao fim de uma festa, da mesma forma com que chegaram. Sou artista, que quer fazer seu show inesquecível, e que se enche de artimanhas pra um efeito dar mais brilho ao show. Sou quase um arquiteto, que deve pensar em saídas de emergência mais eficazes do que as pedidas por lei.
Mas a maior angústia que sinto é perceber que no momento em que as pessoas mais precisam de amor, meus amigos estão discutindo quem é o assassino da história, e procurando formas de punir quem errou. Enquanto os espíritos que partiram precisam de oração, a mídia martela cada instante mais no número: DUZENTOS E TRINTA E CINCO são os mortos no incêndio da boate Kiss. Todos nós morremos um pouco. Morrem os asfixiados, os que conheceram os mortos, os pais, os amigos, os professores, os vizinhos; Morrem as mães com seus filhos em casa, como a minha que me ligou e só disse “Filho, eu te amo.” Morremos nós, que sentimos uma enorme sensação de impotência, de fraqueza, de que podíamos ter feito alguma coisa.
No facebook muita gente condena a Dilma, o Tarso e qualquer outro político que tenha aparecido no velório coletivo. E eu, que sou totalmente anti-PT fico com raiva. Se não houvesse político no funeral, o povo gritaria “INSENSÍVEIS!”. Se ele estão lá, o país critica dizendo que buscavam apenas marketing. Dilma é mãe, é mulher, e vai, sim chorar. E por falar em choro, como não comentar a entrevista deplorável de Fátima Bernardes com o chefe (não sei se é comandante, capitão, etc) do Corpo de Bombeiros? A apresentadora tentou de todas as formas acusar o tal senhor, que emocionado não sabia mais o que falar. E afinal, quem é o culpado?
Já disse um poema moderno publicado na internet “o culpado é você, sou eu, que não fiscalizo as portas de emergência.” Sim, o culpado sou eu. É admirável e decepcionante que somente agora comece uma fiscalização mais leal nas casas noturnas. E ainda assim, eu poderei morrer asfixiado na minha faculdade, que não tem saídas de emergência. Ou no meu carro que carrega combustível em seu tanque. Ou no meu apartamento no décimo andar. Não adianta: haverá a minha hora. É louvável a ação de órgãos competentes em fiscalizar e exigir das empresas mecanismos de segurança, mas sem a ajuda do público muito pouco será feito. Se nós não temos nem professores e médicos suficientes, quem dirá fiscais.
Pra nenhum de nós é difícil lembrar de uma situação em que não aceitamos a morte. De nada adiantou, porque com ela ninguém é capaz de negociar. Pra terminar o texto de hoje, eu imploro aos sensacionalistas: não fiquem postando coisas mais dramáticas do que a triste realidade que estamos vivendo, não aumentem o terror, não façam mais triste os dias que se aproximam. Se querem ajudar, façam preces aos seus deuses, ou lavem louças. Não julguem, porque já disse Shakespeare “com a mesma severidade com que julgas, serás um dia julgado.”.
E por fim, se todo mundo que fica acusando e julgando os donos da boate em Santa Maria fiscalizasse suas próprias ações com a mesma intensidade e ódio das coisas erradas, o país não tava esta merda que está.
Alberto Portugal
Compartilho com quem se interessar pelo assunto e estiver disposto a colaborar com o fim deste absurdo.
Essa última semana foi de reflexão. Tentei me preocupar mais com o mundo do que com esse conto de Almodóvar que minha vida se tornou. E pra quem não conhece Almodóvar, eu vou explicar: o cara escreve umas coisas totalmente sem sentido, que aos olhos do mundo se tornam filmes fabulosos, mas os personagens imploram pra sair dali e o final é sempre uma tragédia, uma coisa esquisita, como uma cena com uma pessoa boiando no meio do oceano, onde ninguém sabe como ela foi parar lá, e nem se saiu de lá.
E de repente, eu caí na real, depois de uma conversa com minha mãe, sobre o grande problema do mundo. De repente, eu percebi que as guerras, as brigas, as discussões, o preconceito e o resto de todo o mal têm o mesmo motivo: tolerância. Se a gente parar pra pensar, as guerras religiosas, e as matanças de São Paulo, do Rio, e de Santana do Agreste (oi?), acontecem unanimemente pela falta de tolerância. O preconceito entre classes, sexos, cores e o diabo a quatro, são apenas mais uma forma de intolerância. A exclusão social acontece pelo mesmo motivo. E todas as formas de grosseria também.
As brigas na saída de um jogo de futebol, acontecem por quê?! E as agressões físicas, as brigas de trânsito, o bullyng, as ameaças ao Restart? As rixas entre os pagodeiros e os sertanejos, e entre os roqueiros e os axézeiros? Enfim, senhores! Tudo é falta de tolerância. O dependente químico não tolera sua realidade e acredita criar um novo mundo com suas drogas. O suicida quer acabar com tudo, porque não aguenta mais, e não tolera mais a realidade em que foi inserido.
Aí, tendo descoberto a grande praga da humanidade, comecei a pensar sobre o meu jeito de sofrer, as minhas revoltas, a minha impaciência, e me dei conta que, a partir do momento em que conseguir ser mais tolerante, vou fazer um monte de gente ao meu redor mais feliz… Meu amor, meus pais, minha família de modo geral, meus colegas de trabalho…
E pra quê serve a internet, e o facebook, senão pra gente ver, rir e compartilhar um monte de bobagens?! Juntei a vontade de mudar o mundo (mesmo ouvindo a três por quatro que ele acabará em menos de trinta dias), e o prazer por ficar horas e horas conectado e resolvi criar um movimento: Mais amor, por favor! Menos ignorância, mais tolerância! A ideia é reunir pessoas de bem (já adicionei algumas) pra que possamos espalhar um pouco de esperança, e de repente, quem sabe, consigamos fazer desse lugar louco em que vivemos algo melhor.
O mundo vai acabar. Do jeito que as coisas estão, ele está prestes a deixar de existir. E embora segundo a lenda urbana do fim dos tempos afirme que falta poucos dias pra isso, ainda dá tempo de nós tentarmos melhorar a vida por aqui. Este grupo é pra pessoas que querem declarar seu amor, que querem pedir paz, mas com atitudes e não só palavras. Cite aqui pessoas que estão mudando o mundo, que merecem um aplauso, que você ama. Sirva de inspiração, e inspire-se! Não condene o que acha errado, e faça ao contrário. Mostre só o que é bom, o que merece ser mostrado. Conte até dez quando estiver irritado, vá até a página e diga alguma coisa bonita. Transforme o ódio em alegria. E sorria =D
Hoje coloquei um carta com a frase no elevador do meu prédio. Uma hora depois ele já não estava mais lá. Mas hoje, ao invés de pensar que alguém o arrancou por um simples prazer, eu vou tentar acreditar que ele foi arrancado pra ser colocado em outro lugar.
Se quiser, apareça por lá! http://www.facebook.com/amoretolerancia
Na semana passada tive uma reunião na comissão de ensino inclusivo da universidade onde estudo. Cheio de expectativas por participar da primeira com os alunos de outras turmas, cheguei bem adiantado – coisa rara pra quem tem TOC. Já de cara encontrei uma menina com alguma deficiência na visão, e não demorou muito pra chegar mais meia dúzia de alunos assistidos pelo programa. Obviamente, os outros eram deficientes físicos, e ao invés de se espantarem comigo, procuravam silenciosamente alguma diferença em mim.
Foi então, que pela primeira vez desde que descobri a dislexia, senti que as coisas poderiam mudar. Nunca foi segredo pra ninguém que a minha dificuldade é acentuada, se comparada com a de quem teve paralisia cerebral. Descobrir a dislexia não foi sinônimo de sofrimento, e como sempre digo, deixei de ser uma anta quadrada pra ser alguém que não entende certas coisas mas a ciência explica. Não tenho muita dificuldade na fala, embora num momento de tensão em que tenha que explicar a existência na terra as palavras sumam, ou mais comumente travem completamente. Não sofro pra escrever, ainda que tanta gente diga que tenho idéias desconexas. (jurei que era dIsconexa)…
Mas esse lance de inclusão tem sido legal. Fui convidado pela comissão de inclusão pra ser representante entre os alunos, e tentar solucionar os problemas. Nas primeiras semanas em que frequentei a reunião descasquei a universidade. Levantei sim só os pontos negativos, citei nomes de pessoas que faziam da possibilidade de incluir um aluno especial na sociedade uma banalidade. E atentas, as professoras anotaram tudo. Em momento algum discordaram. E aquilo me pareceu um descaso, ou uma sessão de terapia careta dessas que o pacienta fala, fala, fala e a psicóloga só ouve sem falar nada.
Foi na semana passada que ouvi uma das coisas mais inteligentes dos últimos tempos. Entre um grupo de três professoras coordenadoras da comissão, e quatro alunos, sendo um com perna mecânica, um disléxico, um altista, uma quase sem visão, entre um assunto e outro, uma voz diz:
” é muito difícil pensar em inclusão, quando você não tem nada que te torna diferente.”
É exatamente este o grande problema. Nós não somos doutrinados a pensar como pensa a outra pessoa, nem a sentir o que sente quem não consegue fazer diferente. Quando se trata de uma deficiência física não é tão difícil olharmos um degrau e sabermos que uma pessoa na cadeira de rodas vai ter dificuldade em subir ali. Isso já mudou muito, e como estudante de arquitetura posso observar em qualquer legislação vigente que a obrigatoriedade em existir elevador ou plataforma para cadeirante é novidade. É muito comum que vejamos nas propagandas eleitorais, nos programas evangélicos e nos pronunciamentos da república uma legenda ou aquela janelinha com um tradutor de linguagem brasileira de sinais. Tudo isso é novidade. Foi de repente que as pessoas com síndrome de Down deixaram de ser anomalias e se tornaram ótimos massagistas, designers, secretárias, e enfim, excelentes profissionais.
O que se percebe é que o mundo divide-se entre pessoas normais, pessoas com deficiência física e por fim, os ainda excluídos, os deficientes mentais. Estes ainda são meio esquecidos, porque é muito mais fácil escrever livros em braile, colocar portas com um metro e vinte de largura e contratar professores de libras. Por outro lado, não é impossível acreditar que haverá uma bendita lei não-constrangedora que proteja os geniais disléxicos, e hiperativos e esquizofrênicos, e os maníacos depressivos, e todos e quaisquer portadores de uma forma de pensar diferente, a fim de poupá-los de uma deficiência física momentânea.
Sim, porque enquanto o mundo for separado da forma que mencionei, os deficientes físicos se tornarão deficientes mentais, porque sem estrutura adequada àquela realidade não conseguirão fazer suas atividades normais, e deixarão de frequentar as escolas, as universidades, as empresas. Mais grave ainda, os deficientes mentais terão suas habilidades físicas prejudicadas: sem o bom senso e a compreensão dos chefes e mestres não conseguirão sair do lugar, e a exigência de um ditado, de um cálculo ou de uma explicação convencional (como se é solicitado aos normais) poderá fazer um futuro Einstein se tornar um peso de papel. No fundo, é tudo a mesma coisa. Todo mundo trava. Todo mundo tem o mesmo medo: o de não conseguir.
Esta reunião foi muito importante, e me deu alívio saber que tem mais gente que sofre como eu, mas que ainda está ali. Ainda, não! Já está ali. Estar numa universidade convivendo integralmente com algum tipo de limitação não é pra muitos. Tem que ter garra, tem que bater o pé. Todos nós estamos batendo, e confiantes num futuro em que a inclusão terá a voz dos inclusos.
Haverá um dia em que não existirão as categorias Normal, Deficiente Físico, Deficiente Mental. E neste dia, todo mundo perceberá que tem alguma necessidade especial, que ser inteligente não é pensar ou agir como todos, e que ser incrível não significa ser perfeito, mas ser diferente.
Para tudo gente… Faz dias que eu estou preparando vários textos pra cá, e os leitores assíduos já começaram a comentar que estou muito ausente do blog. Na real, tirando uns quiprocós bobos, não tive motivos pra reclamar tanto da vida como sempre faço. Talvez essa maturidade seja meio chata quando se é escritor, porque sem sofrer, sem escrever.
O tema do post de hoje é Amanda Todd. Conhece? Não? Muita gente está falando desse caso que chocou o mundo, tanto quanto os estragos do furacão Sandy. Amanda era uma estudante de quinze anos, americana, bonita como qualquer menina desta idade. Pra encurtar a história que é mais um dramalhão trágico real contemporâneo, a guria foi influenciada por um pedófilo qualquer na internet a exibir os seios pela webcam em um chat de comunicação. Cá entre nós, com quinze anos as meninas de hoje em dia sabem coisas sexuais que nem nossos avós sabiam. Mostrou os peitos, o cara obviamente começou a chantageá-la, ela não cedeu e não mostrou mais nada, mas o que o cara fez? Obvio: enviou as imagens da menina sem blusa para todos os contatos de facebook dela. Até aí, vemos dois problemas absurdos: ingenuidade, por parte da Amanda, e impunidade por parte dos órgãos competentes que não conseguem de jeito nenhum prender ou rastrear os pedófilos.
Tá, a parte mais grave vem quando a notícia estoura anunciando que “Amanda Todd, de 15 anos, suicidou-se por não aguentar o bullyng sofrido”.
A menina deu todos os sinais que cometeria o suicídio. Gravou um vídeo desesperada, colocou no youtube e contou tim tim por tim tim a quem quisesse ouvir que foi tão humilhada na escola que chegou a mudar duas vezes de instituição. Depois, a perseguição continuava, porque hoje em dia vivemos muito mais virtualmente do que fisicamente, e onde quer que estejamos a vida virtual continua nos seguindo. Mudou-se de cidade, de país. Tentou se matar uma vez, e os colegas da escola atual e das antigas colocavam fotos de venenos marcando o perfil de Amanda, seguindo com comentários do tipo “Devia tentar este veneno pra morrer mesmo”.
Cadê os pais da Amanda? e mais ainda: Cadê os pais destes filhos-da-puta?!
Pais, vocês são culpados por isso. Não pelo caso dela, mas pelo caso de um milhão de pessoas que ESTÃO SOFRENDO BULLYNG AGORA! Uma coisa é culpar os pais por um filho dependente químico, propenso à dependência, na situação em que o filho teve tudo, como boa educação, um padrão razoável de vida, pais presentes. Se seu filho está assim, perdido, não, vocês não tem culpa, pais. Ele ESTÁ doente.
Agora, outra coisa bem diferente é ter filhos na mesma estrutura, que não usam drogas, não depredam, não vandalizam, mas são exemplares vivos da maldade humana. Uma vez vi um aluno dizendo que não sentaria ao lado de um menino de cabelo comprido. Recusou-se até dizer chega. Só de birra, e tentando ensiná-lo a respeitar os outros, fiz o menino sentar lá, bem do lado do outro. Quando a aula terminou, ainda emburrado, a criança veio falar comigo e disse que contaria tudo ao seu pai, porque era ele quem havia ensinado-o que “homem de cabelo comprido é veado”. O menino de cabelo comprido, se não me engano chamava-se Gabriel, não dava a mínima pra este tipo de comentário maldoso dos outros, mas eu fiquei muito preocupado. Pais, o que é que vocês estão ensinando aos seus filhos?
Como uma vítima sobrevivente dos bullyng’s no tempo de colégio, é que hoje estou indignado com este tipo de situação. O caminho que liga a sanidade à loucura é tão curto quanto o que leva a vida à morte. Cometer suicídio com trinta anos requer muitos mais pensamentos sobre responsabilidade e coragem do que quando se tem quinze. Ser pai é assumir a responsabilidade de que as pessoas que colocou no mundo (ou optou por tê-las como filhos) são um espelho da sua índole. Todo mundo tem direito de não gostar de alguém, de alguma coisa. Mas tem obrigação (mesmo que não existam leis concretas) de respeitar, ao menos moralmente. E se sabe respeitar, sabe também que não se deve colocar seus desgostos (sem fundamento, mas que ainda assim você tem direito de tê-los) aos seus filhos, que muito provavelmente ainda não tenham maturidade de entender que eles podem existir na sua cabeça, mas nunca dela pra fora.
Termino meu repudio aos pais que acham que suas ‘crianças’ estão no Facebook, no MSN, no ORKUT ou seja lá no www que for apenas jogando sound pop ou castle ville, e não estão preocupados em como seus filhos tratam aqueles que lhes parecem diferentes. Enquanto isso, eles podem estar matando alguém. Bullyng é crime, deve ser punido sim, e criação não significa apenas alimentar e bancar as despesas.
“Toda imagem no espelho refletida
Tem mil faces que o tempo ali prendeu
Todos têm qualquer coisa repetida
Um pedaço de quem nos concebeu
A missão de meu pai já foi cumprida
Vou cumprir a missão que Deus me deu
Se meu pai foi o espelho em minha vida
Quero ser pro meu filho espelho seuA vida é sempre uma missão
A morte uma ilusão
Só sabe quem viveu
Pois quando o espelho é bom
Ninguém jamais morreu” - Além do Espelho – João Nogueira
PS: Pai, obrigado por ter me mostrado tudo que eu precisava ver: todo mundo é igual, e merece respeito. Te amo.
A minha está condenada…